Visão turva

Não vejo porque seguir em frente, se o desvio está logo alí com promessas sedutoras de que o caminho não precisa ser tão longo assim.

Não vejo porque voltar atrás, se da esquina aonde virei já passei faz tempo, talvez minutos, horas, dias, meses, anos, uma vida.

Não vejo um fim, um destino, um sentido, pois olhando para o chão só consigo ver meus próprios passos.

Não vejo descanso. Meus pés já estão descalços e feridos de tanto andar.

Não vejo mais o futuro, pois carrego o passado das curvas que tomei na vida.

Parei, pisquei os olhos e olhei.

Tudo me parece novo.

Vejo à frente um longo, mas frutífero caminho. 

Vejo em mim a possibilidade de arrependimento, de reconciliação e de retorno para onde quer que eu tenha me perdido.

Vejo tantos bons motivos e tantos fins honrados que passo a me dar ao luxo de escolher quais quero para meus e seus passos.

Logo que me canso: vejo consolo em ter o que comer e o que vestir; vejo conforto em ser eu mesmo uma casa, um lar.

Vejo meu passado falho apontar para um futuro melhor e mais belo.

Parei, pisquei os olhos e olhei novamente para me certificar.

Tudo me parece tão igual.

T. Assinger.

Foto: Juan Rojas

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