Há algum tempo atrás, descobri que podia chegar aos céus. Desde então, voo para o alto e para bem longe.
Na suave brisa, na doce paz do firmamento gosto de planar, mas, de fato, é no seio de um lindo arco que pinta os céus que realmente me sinto regozijar.
Às vezes, inesperadamente, despenco lá de cima. Mais uma vez, tive minhas asas cortadas. Não sei exatamente ainda quem é capaz de tamanha, mas infalível crueldade: Meus genes, talvez; os traços de minha personalidade também poderiam justificá-la; quem sabe seriam as marcas de minha história eventualmente a me atormentar ; ou até mesmo meu inconsciente a pronunciar: Ei, volta! Você não é de lá!
Uns dizem ser o arco dos céus pura ilusão. Não se chega. Não se toca. Só se vislumbra de longe, oh sonhador!
Sei não! Nem tudo o que se toca é seu. Nem todo lugar a que se chega firmam-se os pés.
Continuo sonhando voar para lá…
Pudera eu desvendar o segredo dos pássaros: que voam, pousam e cantam. Por enquanto, estou ainda a voar, despencar e chorar.
Noutro tempo, ainda mais atrás, viveu um homem chamado Jacó: um fugitivo de si mesmo, uma alma aterrorizada pela sua própria sombra. Embora falho, culpado e cansado, aquele viajante teve acesso aos céus por obra de uma inusitada escada em seu caminho, por onde anjos subiam e desciam sem cessar.
Ora, talvez eu caia vez ou outra por não ser um anjo, por não dotar de asas fortes e robustas como as angelicais, que me possam suster nos ares.
Talvez, eu falhe é por querer voar, no lugar de simplesmente seguir, caminhar e lutar, como fez Jacó.
Quem sabe, se proceder como aquele homem comum, não precisarei mais voar e cair, mas poderei caminhar e subir, aos poucos, com auxílio de anjos, discernindo que as lindas e harmoniosas cores que no alto persigo são um só feixe de luz, que nos revela o perdão que desce dos céus.
Nesse dia, nesse lugar, terei aprendido a voar:
Livre estarei do meu “eu” sombrio, obscuro e danoso; não mais me chamarei por “mim”; terei um novo nome, límpido, sem manchas, nem rugas, tão leve como as plumas.
Ah, que dia! Quando e onde será que terei aprendido a voar?
T. Assinger.
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